Tânia Lucidato


História da Paneleira Tânia
Meu nome é Tânia, eu tinha 8 anos de idade quando comecei a fazer panela de barro. Na verdade, a gente já nasce vendo, até que chega um certo ponto em que surge aquela curiosidade de mexer. Eu achava bonito as minhas tias e a minha avó fazendo as panelas. Nós somos descendentes, tendo a tradição desde tataravó, pois a tradição das panelas de barro veio dos índios que já mexiam com isso e meus tataravós faziam parte desse grupo. Então eu peguei a geração da minha avó por parte do meu pai. Desde pequena fazia panelinhas e a gente vendia. Daí em diante, eu permaneci nas panelas de barro, porém abandonei por um tempo para arranjar outro serviço, mas nunca abandonei de vez, sempre estive com a mão na massa. Passou um tempo, casei, fui embora para o Rio, voltei de novo. Então trabalhei como diarista, saí, voltei para o barro. Trabalhei 19 anos em uma locadora de carros, mas nesse tempo conheci um pessoal no aeroporto que queria fazer uma lojinha com panela de barro. Então eu trabalhava na locadora e fazendo essas panelas ao mesmo tempo. Aqui no galpão me chamavam de ligeirinho, pois eu era muito rápida no meu trabalho e era muita correria. Dessa forma, fiquei nisso até que dispensaram todos que trabalhavam na equipe de limpeza da locadora. Assim, resolvi que não queria trabalhar mais para seu ninguém, vou trabalhar nas minhas panelas de barro, pois é isso aqui que eu amo. Gosto de fazer panela de barro, gosto de conversar, muita das vezes tem um colega que precisa de uma ajuda, a gente vira psicóloga, faz tudo, até vendedora de Jequiti. Com a graça Deus eu consigo, pois tudo aqui na terra é distração, porque um dia a gente vai embora, então tem que aproveitar os momentos, fazer o que a gente gosta, poder ajudar o próximo. Eu amo meu trabalho, principalmente umas besteirinhas como esses vasos aqui, muita gente gosta de trabalhar na intenção da conquista de dinheiro, eu não sou muito disso não, gosto de conquistar aquilo que eu faço com amor, gosto de divulgar meu trabalho. É bom fazer aquilo que você vai em algum lugar e pensa “aquilo ali fui eu que fiz”, você fica orgulhosa do que faz, das pessoas terem gostado, é muito gostoso trabalhar com aquilo que você ama.
Meus filhos são outra história, o mais velho gosta nem de chegar perto. O pai dele eu separei porque não deu certo, meu ex-marido gostava de me maltratar, aí eu disse que não dava para continuar, então vim embora para cá. Cheguei aqui e como eu não estava trabalhando com nada ainda, uma prima me convidou para fazer panela de barro. Eu conheci o pai do meu outro filho, pois alguém de goiabeiras convidou ele para ser sócio em um galpão particular, pois não tinha esse aqui. Aí ele bateu o olho em mim, gostou e nos conhecemos através da panela de barro. Meu filho, Pedro Paulo, veio da panela de barro. Uma história de amor. Meu marido fala assim “já tive muitas mulheres brancas, loiras, de olhos azuis” e eu respondo “pois é, e parou numa neguinha”. Eu soube conquistar, por ele gostar muito de farra, de devaneios, seresta, ele saía e me deixava só, eu ficava quietinha em casa. A nossa conquista foi assim, ele falou “um amor livre sem cobrança, nunca morre, sempre floresce” e eu guardei isso dentro de mim, podia ser o que fosse, mas que o amor ia florescer, que um dia tudo aquilo ia passar e ele ia ficar só pra mim e hoje ele é só meu. E nessa história a gente está beirando os 30 anos. No galpão trabalha eu e meu filho Pedro Paulo, esse que veio do barro. Ele também gostava de mexer com peças de carro, pois meu marido tem uma loja disso, aí meu filho trabalhou numa oficina. Mas não estava dando certo, então eu falei para ele vir ao galpão, escolher barro, para ganhar um trocado para a família dele, assim ele veio. A minha visão que passei: eu peguei uma bola de barro, mostrei para ele e disse “meu filho, ta vendo essa bola de barro? Isso aqui é um ouro, se souber trabalhar com ela, você vai ganhar dinheiro”. E ele guardou aquilo, começou pisando no barro. Tive que me afastar 3 meses pra cuidar de uma pessoa, então ele ficou por conta, vi que estava fluindo bem e deixei ele trabalhar no meu box. Dessa maneira ele permaneceu e eu vinha só para dar uma força. Até que surgiu a pandemia e minha tia Lucilina, que trabalhava aqui, pediu para vender as panelas dela, logo também aproveitei para fazer umas panelinhas, até que ela não veio mais. Então os filhos dela não queriam que ela voltasse, e a associação quis decidir o que fazer com o box dela, todos queriam que fosse por sorteio porque como eu já tinha um box (o que meu filho usava), não queriam me dar. Mas minha tia veio aqui para falar com as responsáveis do galpão e disse que queria dar o lugar para mim, ela conversou e disse “eu não tenho filhas, eu tenho sobrinhas, e como minha sobrinha ta lá e ela não tem onde ficar, eu quero que dê o meu boxe pra ela.” E foi isso, tudo pela fé, porque a gente passa trancos e barrancos, pois ambiente de trabalho nem todo mundo ama todo mundo, mas enquanto me odeiam, eu quero passar meu amor, porque se eu passo meu amor, o Pai la em cima também vai olhar por mim.


Tânia e seu filho Pedro Paulo
Contato Paneleira Tânia
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